As segundas geralmente se resumem
a dores e mensagens de desconhecidos com os quais ela não se lembra de ter trocados
números, mas responde educadamente e, se achar que deve, dá a eles a chance de
um encontro sóbrio. Encontros sóbrios a luz do dia é o nosso tipo favorito de
encontro, e não só porque ela costuma preferir sapatilhas, dando uma folga a
nossas pernas, mas por ser o processo muito mais complexo e com mais variáveis que beijos sob luzes de neon.
Juliana e o pretendente se sentam
num café charmoso, ela pede chá, deixando agradecido o nosso sistema nervoso e
ficando atenta a reapresentação do homem do outro lado da mesa. Se as energias
batem, nosso cérebro se ilumina em ligações de memórias e engatam conversas
sobre a vida e o universo. Em raras conexões, nosso estômago parece sentir cócegas
como reflexo do êxtase daquele momento. Então sorrimos e nos sentimos bem por
estar ali. E o que jurávamos ser borboletas no estômago, saem pela boca em
forma de um carinhoso “bom dia” quando aquele ser humano raro liga na manhã
seguinte. Embora Juliana nunca tenha sido de esperar por telefonemas, ela fica
contente com a surpresa e aproveita ao máximo aquela sensação de quase amor.
Mas se sóbria não há conexão com
o agora conhecido, tamborilamos os dedos na mesa, balançamos a perna e externamos
ansiedade. Ela tenta, sozinha, disfarçar a inquietude que há do lado de cá e
agarra-se a primeira oportunidade de ir embora sem magoar o rapaz. Ela sabe do
nó seco que a garganta se dá em situações de rejeição e faz o máximo pra minimizar
o desagrado causado.
Às vezes Juliana convida um
desses semiconhecidos pra sua casa, nos inunda de vinho, entorpece nossos
sentidos e nos deixa aproveitar. Sabe da nossa necessidade por arrepios e endorfina,
toques e carícias e estímulos que nos agradam até o ápice da ocitocina... Nos
entregamos tanto que ao fim quase nos desligamos. E ela sente quase todo o
corpo grato, senão pelo coração, o chato que não se contenta com atos isentos
de emoção.
Juliana não sente-se feliz,
tampouco sente-se triste. Se a perguntarem, dirá que está satisfeita. “Feliz” é
a definição que está guardando pra quando houver aquela conexão que ainda não
experienciou, que será capaz de nos unir, sincronizar e harmonizar, a ponto de
agradar até mesmo, e principalmente, nosso desgostoso coração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário