sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Ode aos finais

Sempre achei as despedidas mais bonitas. Claro que a chegada e aquele abraço de matar saudades têm sua beleza, mas aquele olhar de pesar antecipado, aquele beijo pensado e demorado pra dizer sem palavras que a falta que a outra pessoa fará será imensa e que sofre desde já com sua ausência, é um apanhado dos melhores sonetos. Sabe aquele abraço que a gente se recusa a soltar porque sabe que será o último em muito tempo, talvez pra sempre? Ali sim está o ápice do romance.

Mas isso não é lá novidade, os músicos já sabem disso há tempos. Pegue como exemplo Vinícius de Moraes em sua canção mais famosa: "eu sei que vou sofrer a eterna desventura de viver a espera de viver ao lado teu por toda a minha vida". Todos concordam que é lindo e sabe por quê? Ora, porque é idealista. É-se impossível estragar o que só existe em pensamento: a convivência é harmoniosa, há sexo todos os dias, bem como café da manhã de comercial de margarina. E, na imaginação, a vida a dois que não pode ser corrompida, torna-se perfeita.

Mesmo as dores de cotovelo e imensuráveis períodos de fossa têm juntos mais beleza que finais felizes. Sim, porque finais felizes consistem em pôr-do-sol a beira do lago, um beijo apaixonado e promessas de amarem-se a vida inteira. Ah! Nesse cenário até o mais frio dos homens é suscetível a jurar amor eterno. Agora visualize você o outro quadro: o indivíduo solitário em seu quarto, tendo como companhia apenas uma garrafa de bebida alcoólica e a voz da Adele em 21 ecoando das caixas de som. O relacionamento acabou, não há esperanças de retorno e ainda assim o ser humano está lá remoendo conversas e prometendo a si mesmo e a deus que continuará amando o outro não importa o que aconteça. Isso sim é amor, o resto é balela.

Amor é o que acontece na tempestade. Em dias ensolarados o que se vê é Consequência. Apenas construção de uma dezena de fatores a favor. O amor é o que acontece quando não se tem mais nada, nem mesmo um filete de raio de sol a entrar pelas frestas, e ainda assim a alma decide seguir amando.

E eu, veja só, que acreditava ser viciada em primeiros encontros, convoco ao fim desse texto um brinde aos finais. Afinal, o que poderia destruir o que está findo?

Salut!


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