Sempre achei lindo isso de quem
ama sem pudores. Quem na maior cara dura, sem escolher palavras bonitas ou
evitar clichês, enche a boca e solta um “eu te amo” bem grande quantas vezes
quiser. Admiro essa coragem deles. Doam-se sem cogitar o desengano, o descaminho,
o desencontro. Pessoas que não parecem ter no dicionário a palavra Cautela.
Esse povo doido. Românticos.
Mas essa admiração é aquela mesma
que se tem quanto às quedas d’água. Olho de longe e sorrio bestificada, às
vezes, logo depois me afasto. Bem sei que são águas velozes e imprevisíveis.
Traiçoeiras e perigosas até pro mais experiente dos mergulhadores, que dirá pra
mim, que não nado nem cachorrinho. Me afogaria em dois tempos. Deixo-as caírem
por lá e fico só com o burburinho bom que se ouve daqui.
Não sei da roupa encharcada
grudando no corpo, da massagem da água caindo-me nas costas e nem do silêncio
da imersão no rio. Contudo, também não sei do frio congelante do vento soprando
na pele molhada, do ser inevitavelmente arrastada pela correnteza e da apneia
quando submergida.
Quem sabe, algum dia, eu volte a pular de cataratas e sentir a vibração do corpo descendo e aquela sensação suicida do mistério que hão de morar no fundo das águas e ao mesmo tempo sentindo que é a eternidade que encontramos. Não sei como é mais essa sensação irmã, mas, sinto saudades. Eu conheci bastante a sensação e sei como é ser um daqueles que salta sem barril e mesmo que exista a lógica física [probabilidades] a gente sempre volta renovado como no desenho Pica Pau descendo as catara taras do Niágara. Não sei mais como é...
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