Cuido que essas minhas dores não
são puramente físicas. Dói-me a cabeça e enrijece-me o pescoço em resposta aos
anos de provação. Li uma vez “esse seu peso nas costas pode ser suas asas
paradas”, e essa frase assim, numa metáfora simples, falou mais diretamente a
mim que diversos poemas já lidos. Hoje, que sou se não um ser prensado pelas
más experiências? Diariamente, permitindo-me ser sobreposto pelos medos e anseios, calando-me por
puro recato débil.
Minhas asas atrofiam-se e, por
negligência, deixo-as cessarem sem lutar. Vezenquando tenho o ímpeto de batê-las
e tentar voar novamente, mas as dores me paralisam. Um impulso que se esvai tão
rapidamente com o fracasso, que mal vale a tentativa. Dói-me o peito e meu coração, que já não sabe
que ritmo seguir nessa hora, suplica por descanso. E a respiração, pesada e
custosa, impede-me de prosseguir.
Meus inimigos, muito pior que a
minha frente, estão dentro de minha cabeça e têm a mim como maior aliado. Quando
combatê-los me é caro, torna-se muito mais confortável a rendição e, quando desistir parece o sensato a se fazer
para sobreviver, você o faz. Não existe análise crítica quando o ar
simplesmente não chega a seus pulmões e não se consegue pensar noutra coisa que
não respirar.
Cuido que essas minhas dores não
são físicas.
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