sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Zona de conforto


Sempre achei lindo isso de quem ama sem pudores. Quem na maior cara dura, sem escolher palavras bonitas ou evitar clichês, enche a boca e solta um “eu te amo” bem grande quantas vezes quiser. Admiro essa coragem deles. Doam-se sem cogitar o desengano, o descaminho, o desencontro. Pessoas que não parecem ter no dicionário a palavra Cautela. Esse povo doido. Românticos.

Mas essa admiração é aquela mesma que se tem quanto às quedas d’água. Olho de longe e sorrio bestificada, às vezes, logo depois me afasto. Bem sei que são águas velozes e imprevisíveis. Traiçoeiras e perigosas até pro mais experiente dos mergulhadores, que dirá pra mim, que não nado nem cachorrinho. Me afogaria em dois tempos. Deixo-as caírem por lá e fico só com o burburinho bom que se ouve daqui.

Não sei da roupa encharcada grudando no corpo, da massagem da água caindo-me nas costas e nem do silêncio da imersão no rio. Contudo, também não sei do frio congelante do vento soprando na pele molhada, do ser inevitavelmente arrastada pela correnteza e da apneia quando submergida.

Um comentário:

  1. Quem sabe, algum dia, eu volte a pular de cataratas e sentir a vibração do corpo descendo e aquela sensação suicida do mistério que hão de morar no fundo das águas e ao mesmo tempo sentindo que é a eternidade que encontramos. Não sei como é mais essa sensação irmã, mas, sinto saudades. Eu conheci bastante a sensação e sei como é ser um daqueles que salta sem barril e mesmo que exista a lógica física [probabilidades] a gente sempre volta renovado como no desenho Pica Pau descendo as catara taras do Niágara. Não sei mais como é...

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