Às vezes chego em casa e subo diretamente ao quarto, achando
que te encontrarei deitada, assistindo TV. Abomino minha mente por me pregar
tais peças. Como quando o gato derruba a louça na pia e eu imagino que você
está de volta à cozinha, preparando sua especialidade e único prato “macarrão
ao molho rosa”. Você nunca me contou como consegue deixá-lo dessa cor e eu não
te encontro mais lá. Apenas tua ausência é o que se apresenta a mim, todos os
dias, em todos os cantos da casa.
Eu nunca entendi bem a definição de vazio. Achava saber
quando lia esses novos autores ou ouvia O Livro dos Dias, mas só realmente
soube após te perder. Descobri o quanto o vazio preenche o vago e nos deixa sem
alternativa, senão encará-lo, dia após dia.
Eu não sabia que o nada podia ser
grande assim.
Refaço sempre teu caminho costumeiro, visito teu escritório.
Leio teus cadernos de novo e de novo. Tentativas de te sentir perto ou ouvir
tua voz novamente. Escuto suas músicas favoritas para me avivar à memória o
teu canto descompassado e tua desconstrução da dança. Hoje, de longe, o mais
belo show que vi.
À noite, antes de dormir, sucumbo ao peso que sustentei ao
longo das horas, inventando uma força que já não existe. Deixo sangrar. O pesar sincero machuca ainda menos que o mais belo riso imposto. Então choro.
E, em algum momento antes do sono, em meu inconsciente debilitado, sei que você
vem me confortar. E é exatamente isso que me faz levantar pela manhã. Só você
pode.
Ignorando a todos os conselhos vindos de quem não entende a minha
dor, vivo em tua morte. Porque é tudo o que me deixou, e, se tivesse de viver
sem nada teu, então assim eu morreria.
Eles não sabem o que dizem.
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