quarta-feira, 27 de março de 2013

Tua ausência


Às vezes chego em casa e subo diretamente ao quarto, achando que te encontrarei deitada, assistindo TV. Abomino minha mente por me pregar tais peças. Como quando o gato derruba a louça na pia e eu imagino que você está de volta à cozinha, preparando sua especialidade e único prato “macarrão ao molho rosa”. Você nunca me contou como consegue deixá-lo dessa cor e eu não te encontro mais lá. Apenas tua ausência é o que se apresenta a mim, todos os dias, em todos os cantos da casa.

Eu nunca entendi bem a definição de vazio. Achava saber quando lia esses novos autores ou ouvia O Livro dos Dias, mas só realmente soube após te perder. Descobri o quanto o vazio preenche o vago e nos deixa sem alternativa, senão encará-lo, dia após dia.

Eu não sabia que o nada podia ser grande assim.


Refaço sempre teu caminho costumeiro, visito teu escritório. Leio teus cadernos de novo e de novo. Tentativas de te sentir perto ou ouvir tua voz novamente. Escuto suas músicas favoritas para me avivar à memória o teu canto descompassado e tua desconstrução da dança. Hoje, de longe, o mais belo show que vi.

À noite, antes de dormir, sucumbo ao peso que sustentei ao longo das horas, inventando uma força que já não existe. Deixo sangrar. O pesar sincero machuca ainda menos que o mais belo riso imposto. Então choro. E, em algum momento antes do sono, em meu inconsciente debilitado, sei que você vem me confortar. E é exatamente isso que me faz levantar pela manhã. Só você pode.

Ignorando a todos os conselhos vindos de quem não entende a minha dor, vivo em tua morte. Porque é tudo o que me deixou, e, se tivesse de viver sem nada teu, então assim eu morreria.

Eles não sabem o que dizem.

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