quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu, falando sozinha

“Eu não escrevo mais. Todas as vezes que tenho um fio de inspiração e tento, acontece algo que a sequestra de mim. Seja alguém que resolve espichar a conversa ou um vizinho ouvindo música ruim. Tudo atravessa as paredes e atinge minha criatividade. É uma lástima, pois necessito escrever. É assim que faço as pazes comigo. Não precisa ser bom, só precisa me satisfazer. E se faço algo que não gosto fico de mal comigo. É difícil conviver com quem se tem uma richa, não há pra onde fugir. Meu desprazer me encara pela manhã, quando abro os olhos, e testemunha minha luta com a insônia. Às vezes até acho que ele torce por ela. Mas o que se pode fazer? Tudo que tenho são palavras amontoadas sem um mínimo de poesia. Sem alma. Forçar-me a escrever me traz ainda mais desgosto. A única ideia que paira em minha mente é o suicídio literário. A melhor que tenho em meses e sequer sei como executá-la. É isso, é o fim.”

Hoje tentei escrever uma canção. Sentei-me a escrivaninha e me posicionei confortavelmente em frente ao computador. Batuquei o teclado por uns minutos e lembrei-me que nunca fui bom de rima. Tentei transformar em algum tipo de poesia contemporânea, mas me faltou lirismo. Era só um amontoado de palavras sem beleza literária. Deletei. Perguntei-me onde será que poderia ter deixado meu eu poético e, do alto da minha preguiça já característica, desisti de procurar e quis inventar um novo.

Outro novinho em folha, que não me viesse arranhado e carregado de experiências desgostosas, que de tão marcado por antigos desafetos não fosse capaz de deitar uma linha sequer sem mencioná-los. Um eu poético ingênuo e curioso, que ignorasse as maldades passadas e falasse de tudo como quem experiencia algo pela primeira vez. Buscava em mim um poeta criança e temia jamais encontrá-lo.