quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Náufrago

A afirmação de que todo homem é uma ilha nunca foi pra ele, tinha certeza disso. Ele, com seus vinte e poucos anos, meia duzia de tatuagens e vestuário discreto, tinha plena consciência de que tudo que vinha dos outros o afetava. Pro bem ou pro mal, toda e qualquer pessoa tinha o poder de mudar o seu dia.

Talvez fosse extra sensível, ou talvez todos fossem como ele e apenas eram melhores em camuflar isso. Negava-se a acreditar na maldade genuína, no egoismo cego, na indiferença humana. Pra ele, toda e qualquer pessoa é essencialmente boa.

Ainda assim, ele sofria. Mastigava e engolia cada olhar torto, palavra cuspida, dar de ombros. Os digiria em cólicas. Absorvia o que lhe era oferecido e transpirava esperança. Porque também acreditava que toda e qualquer pessoa merece o perdão.

E gritava. Bebia tonéis, findava maços, chutava lixeiras. Cantava alto suas dores às 3 h da madrugada na sacada do lar. Apagava as luzes. Ele sabia que toda e qualquer pessoa descansa na loucura.