Sob o olhar de Kurt Cobain
Meus olhos cortam as sombras
Do meu quarto sem janelas
Do meu livro de novelas
Ao som da Jane Fonda
Sob a luz do sol de março
Gasto a sola do all star preto
Marco as costas em nadador
Sobre pedras e ladrilhos cor
Por anéis, cigarros e segredos
Pela orla do Velho Chico
Sob abraços semi-conhecidos
De semi-leigos da história
Que se dissipam na memória
Aprecio meu tempo perdido
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05 de Março de 2010, Petrolina - PE
Quando eu sabia ainda menos.
segunda-feira, 29 de abril de 2013
Não penso, logo sinto
Tua
mão assume minha pele, percorre minhas curvas. Desarruma-me os cabelos - e o juízo. Redesenha
minhas pernas, me aperta a nuca e me puxa pra perto. E me invade. E me une a ti
de tal forma que deixamos de ser dois. Lança-se mão de toda racionalidade. Cabeça
vazia, peito cheio. Que sou eu se não uma extensão do sentir? Do tato, do
desejo, do límbico? Que dirá do reptílico? Te bebo, me tomas. Nos temos. Que
queremos mais? Então me sente, me devora e ignora toda regra da boa escrita e
bom cidadão. Te prendo em mim e não largo. - Não penso, logo sinto.
sexta-feira, 26 de abril de 2013
Ele
Eu o amo, sabe? Não, não tem como
você saber. Acredito que ninguém mais tenha tido a sorte de chegar ao nível do
que sinto hoje. Uns dizem que é dependência, mas eu não ligo. Por que me
importaria em depender de ficar do lado de alguém quando, na verdade, estar lá
é tudo o que eu quero? Se eu me sinto satisfeita, preenchida, extasiada? Se a
presença dele me faz o bem que nenhuma outra coisa pode me fazer? Não existe
nada que traga a felicidade que ele me traz.
Quando eu acordo, meu primeiro
pensamento é se ele está bem, se dormiu bem, se está de mau ou bom humor. Eu
programo minha rotina de modo que coincida com a dele. Para que eu possa
almoçar e jantar nos mesmos horários que ele. Me levanto cedo pra que eu possa
vê-lo sair e desejar um bom dia. Para que o sinta cada vez mais perto de mim.
Eu demonstro o meu amor o tempo
todo. Por cartas, bilhetes, mensagens. Gosto que saiba que tem alguém que se
importa muito e que mataria por ele se necessário. Quero que tenha certeza que
está sendo amado tanto quanto me ama. Ele não demonstra da mesma forma, claro. Tem
seu próprio jeito de me amar, e eu também gosto desse.
Ele é tímido e muito atarefado,
não tem muito tempo para essas manifestações de afeto, mas quando o faz é
inesquecível. Sempre me emociono. Sou meio boba, sabe? Aliás, com ele estou
sempre boba. Ele me faz perder o chão, as palavras, o ar. Quando está por perto,
minhas pernas ficam bambas e me sinto longe de todo e qualquer problema, porque
estou segura ao seu lado.
Meu amor por ele não se abala. E
é eterno, eu sei. Mesmo com os problemas que vimos tendo, nós vamos nos acertar
e tudo ficará bem novamente. Por algum motivo, ultimamente ele vem se afastando
de mim, mas sei que reverteremos essa nossa crise. Todo casal passa por uma
fase difícil, em que não têm certeza se devem realmente ficar juntos. Bom, eu
tenho certeza suficiente por nós dois e vou provar que estou certa. Ele só está
um pouco confuso, com medo de se envolver mais. Homens têm dessas coisas.
Nós tivemos sim uma discussão. Casais
em crise costumam brigar, é normal. Eu me alterei, confesso. Mas ele estava
dizendo coisas sem sentido, não havia verdade nas palavras que saiam de sua
boca. Acho que estava tão assustado com o que sente que inventou motivos pra
fugir de si mesmo. Chegou ao ponto de negar nosso amor.
Você sabe o quanto isso dói? O quanto
machuca se entregar tanto a uma pessoa e ela desdenhar teus sentimentos? Você
sabe como é ter seu amor rejeitado? Você se sente diminuída, desvalorizada,
humilhada. Cria-se uma ferida grande demais para conter. Eu estava sangrando por
dentro e enfurecida por ele estar mentindo pra mim daquele modo. Eu tinha de
fazê-lo parar, mas não conseguiria sem que o fizesse sentir a mesma dor que eu
estava sentindo. Ele precisava saber, entende?
Eu não sei bem como fiz, não me
lembro. Estava cega pela mágoa que ele me causou. Mas ao vê-lo desacordado eu
voltei a mim. Mais calma pude compreender que era como uma criança, apavorado
com tudo o que estava sentindo. Eu já o perdoei. As enfermeiras disseram que irá
se recuperar e, quando voltar, eu estarei aqui. Esperando por ele. Meus amigos,
e os dele também, estão com muito ciúme e ficam mentindo pra mim, inventando
histórias a respeito de nós dois. Eu os perdoo também. Em meu coração não há
espaço pra ódio, rancor ou sentimentos ruins, apenas para o amor que sinto por
ele. E não vou deixá-lo ir. Nunca.
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Inspirado no filme "A la folie... pas du tou"
sábado, 13 de abril de 2013
irônico, não?
Alguma vez já se sentiu tão feliz
a ponto de ter medo? As coisas melhoram instantaneamente e permanecem assim
sem que você consiga encontrar um motivo lógico para aquilo ter acontecido.
Você tem o mesmo emprego, mesma casa, tem os mesmos amigos, mora na mesma
vizinhança de sempre e simplesmente tudo passa a ter um brilho diferente.
Você acorda pela manhã e não se
importa do despertador ter cortado a melhor parte do sonho porque sente que, na
verdade, a melhor parte você pode começar a fazer agora, na vida real. O céu está
mais azul, as pessoas estão mais bonitas e os pets estão encantadores. Você
deseja bom dia pro sol porque, subitamente, passou a enxergar beleza na
natureza e nos detalhes do seu dia.
Sua rotina não tem mais o peso de
sempre, virou prazer. Suas expectativas a respeito do mundo tornaram-se
incomparavelmente melhores. É como se o tempo passasse num ritmo diferente e
você pudesse notar a graça de estar vivo. Você se sente feliz quase que apenas
pelo fato de existir. E, quando se dá conta, percebe o quão assustador isso é.
Digo, não há nada de errado em
estar contente, o que parece errado é não saber bem o que te levou a isso. Algo
sustenta sua felicidade e não há como impedi-lo de ir porque não se faz ideia
do que seja tal coisa.
Não temos medo de ser felizes.
Temos medo de perder a felicidade e não conseguir recuperá-la tão cedo ou, quem
sabe, nunca mais. Não sabemos quão triste somos até experimentarmos o
verdadeiro riso. E agora, cientes de nosso estado de felicidade, como lidar com
a possibilidade iminente de perdê-lo?
Você começa a lutar contra um
inimigo invisível. Passa estragar dias de sorriso com o receio infundado de ver
o que tem ser destruído por algo inexistente. E acaba por desmoroná-lo por si
mesmo. Irônico, não? Você não quer que acabe e se torna o próprio causador do
fim.
Não, não há reviravolta dessa vez. É
isso.
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