Desaprendeu a viver.
Tem os olhos perdidos e a maturidade emocional de quem perdeu alguém que ama,
sem nunca ter amado. Não conversa por nada ter mais a dizer. Por não
querer repetir o que todos já disseram. Nem falar de assuntos sem alma. Se
encontra já sem espírito de fé. Se chora, é por instinto. Se gosta, é porque
aprendeu que devia ser assim. Convenção social. Convive por não ter
escolha ou por preguiça de escolher. Beija e abraça mecanicamente, como quem retribui
o “bom dia” ao vendedor. Sussurra pro vento, ora pra um deus que não crê. Comove-se por convencimento, sem compaixão. Se doa sem dor. Não se dá. Não se vê. Não se
ouve. Desaprendeu a sentir e receia não mais querer aprender.