sábado, 3 de novembro de 2012

o que li num estranho na rua


Desaprendeu a viver. Tem os olhos perdidos e a maturidade emocional de quem perdeu alguém que ama, sem nunca ter amado. Não conversa por nada ter mais a dizer. Por não querer repetir o que todos já disseram. Nem falar de assuntos sem alma. Se encontra já sem espírito de fé. Se chora, é por instinto. Se gosta, é porque aprendeu que devia ser assim. Convenção social. Convive por não ter escolha ou por preguiça de escolher. Beija e abraça mecanicamente, como quem retribui o “bom dia” ao vendedor. Sussurra pro vento, ora pra um deus que não crê. Comove-se por convencimento, sem compaixão. Se doa sem dor. Não se dá. Não se vê. Não se ouve. Desaprendeu a sentir e receia não mais querer aprender.


...


Só vem.
Não marque hora, dia
Lugar ou flor na lapela
Não se marque.
Não se guarde.
Pelo o que não disser
Não se amargue.
Eu não vou.
Não me aguarde.
Então vem.
Enquanto o futuro não assusta
E o passado não assombra.